Era Uma Vez o Mundo leva questão racial para debate em escolas por meio de bonecas pretas de pano
Per Shell Iniciativa Jovem em 20/01/2023
Quando Jaciana Melquiades se tornou mãe, além de seu filho, nasceu também um grande incômodo: ao tentar decorar o quarto da criança, se deparou com a inexistência de itens de decoração infantil que remetessem à negritude. Para reparar essa lacuna e providenciar ao filho referências da própria cultura, começou, ela mesma, a fazer os brinquedos que desejava que ele tivesse. Em paralelo, conheceu um grupo de mulheres, o Meninas Black Power, que visitava escolas de forma voluntária, para levar questões raciais, de empoderamento e aceitação, à pauta com os alunos. Em uma das visitas, levou à escola uma boneca de pano preta, que havia feito para o filho. A partir daí, foi criada a sua empresa, a Era Uma Vez o Mundo, que participou do Edital de Soluções para a Retomada 2022 do programa Shell Iniciativa Jovem. A empresa cresceu tanto que, na pandemia, vendeu para 24 dos 27 estados brasileiros.
“A Era Uma Vez o Mundo surgiu de um jeito orgânico. Não tínhamos a expectativa de que fosse se tornar o que é hoje. Os professores adoraram, começaram a pedir mais e eu comecei a entregar por encomenda. Esse feat deu certo. Tinha uma máquina de costura que ganhei da minha mãe para me entreter no puerpério. Era eu que fazia tudo, desde as bonecas até a venda, lidando com professores. O desenvolvimento disso como negócio se deu quando larguei todas as minhas ocupações e mergulhei de cabeça”, conta Jaciana.
O momento de pandemia, para a empresa, foi de expansão. Com pais e filhos trancados em casa, em lockdown, as vendas online de brinquedos aumentaram significativamente. “Logo no início, como a gente tinha negócio físico, entramos em pânico. Tivemos que fechar a loja e pensei que iríamos quebrar. Não tínhamos a estrutura de site que temos hoje. O que fiz foi mobilizar nas redes sociais, pedindo que as pessoas comprassem as bonecas. Em 15 dias, vendemos um volume tão grande, que não estávamos nem prontos para entregar”, lembra ela, contente com a força da comunidade que construiu.
“Tivemos que sair de um atelier pequeno para outro grande, contratar e treinar pessoas, mudar o processo de produção. A pandemia foi um período de expansão, importante para a maturidade da empresa”, afirma Jaciana. De maio a dezembro de 2020, foram cerca de 6 mil bonecas pretas de pano vendidas pela internet – um marco para Jaciana.
Além disso, a Era Uma Vez o Mundo também tem um pilar educativo, que pausou com o fechamento das escolas na pandemia. Agora, no período de flexibilização das medidas restritivas e com o apoio do Edital do Shell Iniciativa Jovem, Jaciana conseguiu retomar essas atividades junto às escolas – algo que reforça o propósito da empresa e remete às primeiras bonecas que ela fez e que foram entregues aos professores do filho dela.
“O Edital de Soluções para a Retomada 2022 do programa Shell Iniciativa Jovem chegou nesse momento em que estávamos em expansão, atabalhoado, entendendo como mudar alguns processos. Esse recurso nos deu a tranquilidade de conseguirmos fazer essa transição de tamanho de um jeito mais suave e de conseguirmos voltar às atividades educativas do jeito que achávamos importante. Fez voltarmos ao que é principal, que é impactar a educação”, explica Jaciana.
Foram realizadas oficinas educativas que apresentaram a importância da existência de bonecas pretas para o brincar infantil saudável. O projeto ainda oferece atividades lúdicas de contação de histórias e montagem coletiva de bonecas pretas de pano, que são realizadas com alunos da educação infantil e dos anos iniciais do ensino fundamental das Escolas Municipais do Rio de Janeiro.
Até agora, foram 15 mil crianças impactadas, considerando ainda a disponibilização gratuita de formação para os professores, de um e-book com os registros dos encontros (fotos, relatos, relatórios de impacto) e um kit com bonecos, bem como todas as bonecas que forem produzidas em excedente ao número de alunos participantes por edição.
“Considero o Shell Iniciativa Jovem um parceiro importante no amadurecimento do meu negócio. Foi o primeiro que entendeu o que eu faço como um negócio. Ao participar do programa pela primeira vez, em 2018, consegui olhar para tudo que tinha, criar um plano de negócios e entender que era rentável. Do Shell Iniciativa Jovem, saíram pessoas que funcionam como mentores. A rede que se formou fez com que meu trabalho fosse visibilizado de forma que eu não teria recursos para fazer. Além disso, o suporte que recebemos, mesmo depois de ter finalizado os processos e acelerações, é muito importante para crescermos”, conta Jaciana.