Maré Relógios capacita catadores de cooperativa da Rocinha para transformar plástico reciclável em armação de óculos
Per Shell Iniciativa Jovem em 12/01/2023
Já pensou se, em vez de vender todo o lixo reciclável que coleta, uma cooperativa tivesse equipamentos de alta tecnologia e conhecimento técnico para transformar parte desse material descartado em armações de óculos para pessoas de baixa renda? Pois, essa ideia já é uma realidade e está sendo implementada na comunidade da Rocinha, no Rio de Janeiro, a partir de uma iniciativa da Maré Relógios, criada pelos irmãos João Victor e Pedro Azevedo.
Repensar o descarte de materiais foi o marco inicial da empresa, concebida em 2015, para aliar sustentabilidade e inovação no desenvolvimento de produtos. Eles começaram pelos relógios, feitos a partir de madeira descartada, mas não pararam por aí. “Entendemos que não era só a madeira que sobrava. Vários outros materiais sobram, né? Trabalhamos com tecido, câmara de pneu de bicicleta. E aí, entendemos que o plástico era uma questão. Em paralelo, já estávamos começando a trabalhar com impressões em 3D”, conta João Victor.
O reaproveitamento sempre foi um dos valores dos irmãos, que chegaram a participar do primeiro Edital de Soluções para a Retomada, do programa Shell Iniciativa Jovem, que oferece apoio financeiro a empreendimentos atuantes na mitigação dos efeitos da pandemia da COVID-19, em 2020. Na ocasião, receberam incentivo para a produção de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) para agentes comunitários que atuam na Rocinha.
“Quando veio o Edital de Soluções para a Retomada 2022, a gente entendeu que poderia ensinar essa técnica de impressão 3D com plástico reciclável à comunidade de catadores, de maneira que eles poderiam reaproveitar o plástico que eles próprios coletam”, explica João Victor.
A Maré Relógios se inscreveu novamente, desta vez para o Edital de Soluções para a Retomada 2022 do programa Shell Iniciativa Jovem, e foi novamente selecionada. O projeto irá capacitar pessoas da Cooperativa Recicla Rocinha, com o apoio do Coletivo Tamo Junto, que atua em toda a comunidade, e em parceria com o Núcleo de Educação e Ação sobre o Menor (NEAM) e o Laboratório de BioDesign da PUC-Rio.
“Há uma demanda muito grande de pessoas que não usam óculos em função do custo da armação. Desenvolvemos esse produto para ser impresso em 3D, com o plástico reciclável que é coletado na Rocinha. E, como os astros ainda ajudam, o plástico que a gente usa na impressão é de um tipo que não é tão facilmente vendido pela comunidade – o ABS, que é por exemplo carcaça de liquidificador, carcaça de aspirador de pó, e tem pouca saída. Eles têm muito desse material por lá, pois ninguém compra”, conta João Victor.
Além de usar o plástico para atender à demanda de armação de óculos, com custo baixo, eles também pretendem, com a formação, desenvolver novos produtos para aumentar a renda dos catadores, considerando que a Rocinha hoje é um ponto turístico do Rio de Janeiro. “Por que não transformar esse óculos em um souvenir, a ser vendido na comunidade, com o retorno dos lucros para os próprios catadores ?”, questiona João Victor.
“A importância do edital para o desenvolvimento da iniciativa na Rocinha foi enorme. Permitiu que a gente comprasse as máquinas de impressão 3D e buscasse pessoas que nos ensinassem a melhorar o que a gente tinha criado lá atrás. Com isso, o Maré Relógios chegou a um produto que de fato tem uma qualidade e um acabamento para ser usado. E isso faz com que a gente consiga passar essa tecnologia para a comunidade. Nós estamos de fato trazendo algo que vai gerar valor, no sentido de que não é um protótipo.”, afirma João Victor.
Além da transferência de tecnologia aos catadores da Rocinha, o Maré Relógios ainda forneceu as máquinas, que continuarão com a cooperativa, mesmo após o término do Edital, garantindo possibilidade de geração contínua de renda à comunidade.